Não sou neguinha, não sou mulata, não sou morena da cor do pecado. Não sou aquela que só veste roupas tribais para as coleções das grandes grifes de moda. Não sou a atriz convidada para interpretar escravas em novelas de época. Não sou aquela que tem cara de empregada. Não sou aquela que não cresce na vida porque não aproveita as oportunidades de trabalho. Não sou aquela que vê racismo em tudo porque gosto de me fazer de vítima.
Eu sou aquela que disputa vagas em universidades públicas com quem sempre estudou em bons colégios, enquanto eu tinha que trabalhar e estudar por uma questão de sobrevivência. Eu sou aquela que vai no salão de beleza para tratar o cabelo e ouve ‘nossa, tenho um alisante ótimo pra você!’ ou ‘Seu cabelo é difícil demais, né?’. Eu sou aquela que tem o corpo hipersexualizado. Eu sou aquela que não encontra facilmente produtos de beleza que atendam às necessidades da pele escura. Eu sou aquela que NUNCA foi tratada como princesa. Eu sou aquela que quase não se vê lecionando em universidades. Eu sou aquela que precisa se afirmar todos os dias enquanto pessoa capaz. Sou aquela que mais sofre violências obstétricas e sexuais. Sou aquela que quase não aparece nos comerciais. Aquela que foi liberta há mais de 100 anos e, no entanto, luta todos os dias para sair dessa condição de escrava.
Sabe quem eu sou? Eu sou uma mulher negra! Neste 8 de Março lembremos das lutas das mulheres. Lembremos também que o machismo e o racismo andam de mãos dadas. Lembremos que não é fácil ser mulher negra em uma sociedade que não acabou com as raízes escravocratas.
Que a sororidade se faça mais presente entre nós, hoje e sempre!
Com esperança de dias melhores para todas,
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